Série I – Objetos – TRAVESSEIROS
A OBRA
SÉRIE I – TRAVESSEIROS 144
São 144 objetos: travesseiros-almofadas. Realizados após analisar os sonhos selecionados no “Livro dos Sonhos” através de metodologia inspirada a partir da Anatomia dos Sonhos e da Trilha dos Sonhos. Foram identificados 12 agrupamentos e a partir daí, estabelecidos dimensões e formatos. Os clichês, gravuras e desenhos, colocados associados algumas vezes literalmente ou em grande parte por amplificação.




* Numeração:
Criou-se uma forma de numeração da série, que sinalizasse o processo de mutação da obra. A partir da assinatura da artista, em espiral – espelhada, formando assim outro símbolo universal – a Espiral Dupla – cujo significado é “principio e fim, yin e yang, condensação e dissipação,”… (Jill Purse, The Mystic Spiral, Ed. Thames & Hudson, 1974, pag. 116).
Com a mesma significação, em alguns antigos templos cristãos, a consagração das igrejas se ritualizava com a primeira letra do Alfabeto Latino, a última letra do Alfabeto Grego e às vezes, com o Alefato. (Jean Hani, El Simbolismo del Templo Cristiano, Ed. Sophia Perennis, 1978, pag. 44-46). Associando o Alefato à Guematria Cabalista, possibilita a numeração de 001 a 144.
Que em ordem crescente se estabeleceu assim: Espiral dupla, letra A, letra Ômega, numeração de 001 a 144.






SÉRIE II – TRAVESSEIROS

( Exposição “Esta rua é minha” – Série TRAVESSEIROS e Série TENDA (2007/2008 )
A instalação “Sonhos Mutantes – Travesseiros e Tenda” na Exposição “Esta rua é minha”, marcou o início do processo das ações de compra de sonhos de outros.
Para comprar simbolicamente estes sonhos, optou-se por uma apresentação performática com 01 casal de atores de teatro vestidos respectivamente de mágico e assistente (apropriação do figurino realizado para a peça teatral “Estrela de Alagoas” – Grupo teatral ATA).
TODAS AS RUAS DA CIDADE
Marcus de Lontra Costa*
“Toda arte é uma revolta contra o destino do Homem”.
André Malraux
No início, há somente o silêncio dos grandes espaços. A presença do ser humano ocupa o terreno e a ação artística estrutura e identifica o cenário da vida. O mundo é a medida do homem, de suas realizações, de seus sonhos. Essa é a busca, esse é o caminho do ser humano em sua sina de garimpeiro.
Para que esse mundo possa ser compreendido em seu sentido integral, para que ele tenha rumo, é preciso que ele seja seccionado, que seus espaços sejam repartidos; é preciso que as formas povoem seu território e venham a criar, assim, sentido e identidade. Na invenção do mundo criado pelo homem é preciso dividir, organizar e, depois, entender.
Portanto, para o “entendimento” ser levado a bom tempo é preciso articular relações com o mundo real. Nessa equação emocionada entre o projeto e a construção, entre o sonho e o fato concreto, o homem cria “coisas” a partir de “coisas” naturais. Esse é o universo da criação artística, assim ela opera. “Para se criar uma paisagem, o artista deve, antes de tudo, matar a paisagem anterior. (1)
Eis então a premissa da criação artística, o seu berço e a sua essência. O tempo e o espaço se articulam numa poética peculiar e com ela o homem povoa o seu território de lembranças, experiências, descobertas, inventos, conquistas. O pensamento humano é, portanto e antes de tudo, uma cidade invisível, envolta na bruma. Cabe a ação artística dar forma e sentido a esse vazio, encher de ruídos esse silêncio, estruturar e tornar visível essa idéia, fazer do mundo a extensão do seu pensamento: local da ação. “O Tejo não é maior do que o rio da minha aldeia”. (2)
“Esta rua é minha” traz ao público três realidades específicas, três experiências artísticas distintas, três cidades, três maneiras diferenciadas de se abordar um mesmo mundo, uma mesma questão. Essa é o caminho do invento, esse é o artista em seu destino de garimpeiro, a caminhar pelo mundo buscando encontrar aquilo que jamais perdeu. “Cantando espalharei por toda a parte/Se a tanto não me falar engenho e arte”. (3)
O possessivo do título deve ser compreendido em seu sentido mais amplo, de pertencimento e ocupação de mundo. Esta rua é minha, todas as ruas da cidade, a cidade e nossa, ela é local da festa, da troca, da comunicação, ela é em essência a grande catedral das ações do ser humano e seu grupo, sua espécie, sua gente, seus pares. Essa é a proposta dessas cidades inventadas… Desvendá-las, enfrentar o permanente mito da Esfinge, “Decifra-me ou te devoro”, eis o desafio. Superar a mera contemplação passiva e envolver-se na experimentação, acreditar na força subversiva da Beleza, olhar e sentir o mundo em suas várias angulações, perceber que descobrir alguma coisa nova no mundo é, também, descobrir alguma coisa em nós mesmos. Toda criação artística é um convite, um barco, uma viagem. “Navegar é preciso, viver não é preciso”. (4)
…
Para Ddaniela Aguilar o mundo é a construção de um território a partir de algo que se perdeu, civilização abandonada que se reconstrói através de fragmentos, resíduos, lembranças. A cidade se elabora a partir do sonho, a partir de desejos, amores, energias, sentimentos que povoam o espaço, que rompem os limites, que inundam e irrigam a terra e todos os pensamentos do ser humano. Esses são os elementos, engrenagens, travesseiros, grafias e gravados, essa é a matéria com a qual a artista elabora o seu discurso, seus ritos, seus sonhos, seu mundo. Tudo, aqui, conspira pelo Mistério.
*Crítico de arte
- Herbert Read
- Fernando Pessoa
- Luiz de Camões
- Anônimo. Português. Popular
TENDA: Série 24 telas
Dimensão: variadas (pintura a partir de 04 agrupamentos de sonhos), dispostas em forma de “tapetes que descem sobrepostos”.
Estrutura externa de madeirite e caibros dimensão: 400 x 400 x 400 cm.
Técnica/Material: acrílica sobre tela, madeira (estrutura)
Ação performática: compra de 98 sonhos

TRAVESSEIROS: Série de 144 objetos
Dimensão: variadas, divididos em 12 agrupamentos de sonhos.
Técnica/Material: externo: Clichês de borracha e silicone, colagens, desenhos, acrílica sobre acetato;
Interno: jornal pós-consumo.
Série III – TRAVESSEIROS
(Novembro/2009 a Janeiro/2010)
Exposição Essa Rua é Minha, Essa Rua é Nossa
Instalação – CÍRCULO DE MENINAS – Guardiã permutante dos desejos e sonhos
122 objetos – acetato, clichês, desenhos e colagens
Período – Novembro/2009 a janeiro/2010
Pinacoteca Universitária da UFAL – Maceió | AL
Círculo de meninas – Guardião permutante de sonhos e desejos – A reconstrução da realidade.
OBJETO – Desdobramento de Projeto “Sonhos Mutantes” a partir do registro de memórias e de sonhos de doze meninas na faixa etária de doze a quinze anos que vivem na Comunidade do Verde. O exercício transcorreu no período de junho de 2008 a junho de 2009.
CONCEITO – Expectativas referentes à vivência na comunidade como precursora de sonhos para o transcurso de um caminho emblemático projetado sobre a cartografia da alma onírica das meninas, contribuindo para uma reelaboração construtiva do próprio eu.
PRÁTICA – A partir de uma atitude lúdico-exploratório, utilizou-se, além de outras técnicas, a interpretação dos sonhos através do jogo de oráculos com imagens de arquétipos femininos. Como referência, as teorias de Carl Jung.
PERMUTA: Compra dos sonhos das meninas pela artista. Registro no livro específico, elaboração dos travesseiros – representação estética dos sonhos como elementos construtivos da obra da artista. Os objetos, travesseiros foram elaborados com materiais recicláveis.



BRAVA GENTE
Ana Cristina Carvalho[1]
…Esta exposição reveste-se de dois grandes significados: o primeiro é revelar as verdadeiras faces do trabalho de inclusão social que os dedicados artistas – Ddaniela Aguilar, Rogério Gomes e Vera Gamma vivenciaram no Atelier Galpão 72, por um período de quatro anos, com jovens e crianças da comunidade do Verde, em Jaraguá, Maceió. O segundo é apresentar sua produção artística resultante das sucessivas experimentações de técnicas e linguagens, alicerçadas pelas ações de interação, que trouxe mudanças não só para a comunidade, mas também para os próprios artistas.
Com sua arte, Ddaniela, Vera e Rogério subvertem padrões, criam oportunidades e transformam vidas, trazendo a contribuição do artista para a realidade. O sentido é pensar o teatro da tragédia humana e de seu potencial de metamorfoses. Trabalhando com materiais como: resíduo industrial, tinta, cola, madeira, papel, ferro, tecido e metal, fazem uma arte catalisadora da cultura humana. Trazem, além das reflexões estéticas, uma experiência pessoal que muda a visão de mundo e um sentido coletivo; pedaços que se transformam em objetos símbolo e devem ser considerados como relicários da condição humana, meios de transmissão de valores e de vida. Painéis, instalações e objetos que programam símbolos e comunicam idéias.
Arte conceitual? Melhor considerá-la como arte total, onde importa mais o processo do que o objeto. Onde importa mais a ação do que o resultado. Nessa perspectiva é um novo entendimento da produção artística como vetor de desenvolvimento humano, como pesquisa, como atitude de enfrentamento, cuja dinâmica viva e orgânica leva à dimensão do construir, em vez de destruir. Contextos esses que são revelados por meio das obras reunidas nas três salas de exposição. Na primeira sala, o caminho registra o contexto da cidade, da praça, da rua, da casa; abrigos, casulos, encontros e desencontros; a vida no Verde.
A segunda sala apresenta objetos produzidos pelos artistas e pela comunidade do Verde, e traz a metáfora da rede, que sintetiza o processo de trabalho conjunto, os sonhos e as esperanças de cada um. Na terceira sala, outro núcleo de idéias evidencia as linguagens distintas de expressão de cada artista, que apesar da diversidade das formas e suportes, demonstram uma profunda relação de forças e equilíbrio.
Compondo-se de objetos e pinturas que fazem parte das séries do projeto Sonhos Mutantes, a instalação “A Tenda- Círculo de Meninas”, da artista Ddaniela Aguilar, transforma-se na representação estética dos sonhos, já que nas palavras da artista “ao travesseiro cabe a responsabilidade de apoiar a cabeça de quem deita para sonhar”. Os sonhos são, na verdade, a mola de engrenagem de construção de realidades, e a obra de Ddaniela, resultado de uma pesquisa que se inicia em 2007, evocam a infinita possibilidade de “construir mundos”, coincidentemente nome do tema da Bienal de Veneza de 2009. Poderia, portanto, a artista ter participado com muita propriedade da edição de Veneza.
…
As três poéticas dos artistas Ddaniela Aguilar, Vera Gamma e Rogério Gomes são distintos e particulares. Têm, no entanto, inúmeros pontos de contato: em primeiro lugar, a visão humanista da própria arte, que os aproximou no programa de ações conjuntas do atelier do galpão 72; a visão artística que nasce de conceitos filosóficos comuns no que se refere à busca de equilíbrio entre corpo e espírito, plasticidade e dinamismo; uma arte que está sempre em processo de construção, usada como ferramenta transformadora; são artistas que expressam, por meio de formas distintas, o diálogo com a sua história e com a condição humana.
[1]Mestra em Artes Plásticas, crítica de arte da ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte) e AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte), curadora do Acervo artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo.

Série IV – TRAVESSEIROS
(Outubro/2012 )
