CONCEITO
A Tenda é espaço destinado para uma compra simbólica e compartilhamento dos sonhos, e o formato e estrutura irá variar de acordo com cada instalação ou ação.
Está composta de pinturas em telas realizadas a partir de 04 agrupamentos da trilha dos sonhos e estas formam as telas âncoras, e as restantes substituídas quando necessário por novas telas dos agrupamentos ainda não trabalhados.
Sempre a partir do agrupamento escolhido, vão surgindo uma série de telas denominadas “Série Arabescos” e “Série O Baile“.
As Telas possuem dimensões variadas e dinamizam o transbordamento e multiplicação dos desejos.
Trilha dos Sonhos: Dicionário – Cápsula de Símbolos Oníricos
TENDA I
(2007)
Esta Rua É Minha – Galpão 72 – Maceió- AL – Novembro/ 2007 a Janeiro/2008
Série 24 telas em dimensões variadas (pintura a partir de 04 agrupamentos de sonhos), dispostas em forma de “tapetes que descem sobrepostos”. Estrutura externa de madeirite e caibros dimensão: 400 x 400 x 400 cm. Técnica/material: acrílica sobre tela, madeira (estrutura).
AÇÃO:
Para realizar a ação utiliza-se uma apresentação performática com 01 casal de atores de teatro vestidos respectivamente de mágico e assistente (apropriação do figurino realizado para a peça teatral “estrela de alagoas” – grupo teatral ATA). Nesta mostra foram comprados 98 sonhos.
TENDA II
(2008)
Arte que banha o Nordeste – Palácio dos Bandeirantes – São Paulo – SP – Março/Junho/2008
Para esta ação, foi necessária uma modificação física da Tenda, já que, uma vez montada, causou estranhamentos e controvérsias, o espaço – Palácio dos Bandeirantes – carrega uma dupla função, a administrativa e a museológica. Justificado pela permitida possibilidade de mutação da obra, foi então, desmontada e refeita de forma a ser acondicionada dentro de um espaço de passagem.
TENDA: série de 16 telas em dimensões variadas (pintura a partir de 04 agrupamentos de sonhos).
Estrutura externa de madeirite e caibros. Dimensão: 300 x 200 x 330 cm.
Técnica/Material: acrílica sobre tela, madeira (estrutura).
Sonhos Mutantes, Espelhos da Alma
Ana Cristina Carvalho [1]
A obra “Sonhos Mutantes”, de Ddaniela Aguilar, revela um significado além da estética e da forma; contém uma reflexão psicológica e filosófica. A caverna feita de luz e cor que simboliza a consciência, contrapondo-se à ignorância e a letargia de um viver sem alma remete ao mito da Caverna, de Platão, e ao conto “O Espelho”, de Machado de Assis.
O trabalho é um sinal de alerta às trevas de um viver sem alma e sem esperança, desafiando as dificuldades e os revezes que o destino reserva. A densidade contida na tenda de Ddaniela revela a alma que ri e que chora, revelando os desejos mais profundos da alma humana. No conto de Machado de Assis, ele afirma que “cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro (…)”; a função das duas é transmitir a vida para juntas completar o homem. No entanto, perder a alma que sonha significa não só perder uma parte da existência, mas perdê-la inteira. As paredes de cores e formas dos “Sonhos Mutantes”, de Ddaniela Aguilar, são como espelhos da alma a desvendar o nosso universo onírico, capazes de mudar vidas e ajudar a encontrar saídas.
Desde janeiro de 2007, a artista transporta os sonhos para os diversos suportes – como os travesseiros, a tenda de madeira e os panos-, usando uma linguagem lúdica, expressiva e interativa. Assim, a instalação “Sonhos Mutantes”, apresentado na exposição “A Arte que banha o Nordeste”, de março a junho de 2008, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, faz parte de um projeto, cuja trajetória ainda não terminou. Ddaniela pretende continuar a semear sonhos e ajudar a construir realidades.
A experiência da obra no Palácio dos Bandeirantes, um espaço com dupla função – a administrativa e a museológica -, traz muitos significados. Importante, em primeiro lugar, é destacar a permanência de um trabalho dessa natureza na sede do poder político e administrativo do Estado mais rico da Nação brasileira. De início, houve um estranhamento com relação à estrutura de madeira, no centro do hall nobre, por onde passam todas as autoridades que adentram o edifício para as reuniões políticas.
Posteriormente, a obra foi transferida para outro local escolhido, próximo ao anterior, mas com a intenção de criar um espaço de passagem, que remetesse a uma espécie de pórtico libertador onde se passa da realidade individual à dimensão da memória, dos desejos e sonhos coletivos. Sonhos de paz, de um mundo melhor, sem violência, sem fome, um mundo de amor. O livro dos sonhos que propôs a artista na exposição do Palácio dos Bandeirantes ficou cheio de energias, revelações, segredos e emoções. Sonhos de jovens esperançosos e adultos cansados e intolerantes, que imaginaram borboletas, estrelas, anjos e crianças sem fome, justiça e educação.
Fonte inesgotável de simbologias e de significados, o trabalho de Ddaniela procura desvendar em sua caminhada a busca do verdadeiro espelho da alma humana, identificando vidas e níveis de realidade. Esse trabalho absolutamente contemporâneo revela uma pesquisa que vai muito além da questão formal e constitui-se em uma investigação importante, trazendo uma contribuição significativa para a arte enquanto instrumento de desenvolvimento humano e social.
[1] Mestra em Artes Plásticas, crítica de arte da ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte) e AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte), curadora do Acervo artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo.
TENDA III
(2008)
Instalação e Ação Social – 07 a 14 – setembro/2008 Bolsa de residência artística
SPA das Artes– Praça do Mercado São José – Recife. PE
TENDA:
Série de 23 telas em dimensões variadas (pintura a partir de 04 agrupamentos de sonhos), dispostas em forma de “tapetes que descem sobrepostos”, 04 telas para o teto e 01 tela para o piso.
Técnica/Material: acrílica sobre tela.
Estrutura externa: madeirite e caibros. Teto: ferro (metalon) e lona de plástico.
Piso: pallets de madeira. Dimensão: 400 x400 x 330 cm.
150 fronhas (tecido: 100% algodão) com colagem dos sonhos comprados
AÇÃO:
A apresentação do Projeto Sonhos Mutantes no SPA das Artes foi desenvolvido com resultados satisfatórios e surpreendentes. As pessoas que passavam pela praça era abordadas pelo “Mágico e sua assistente” a “vender” um sonho. Houve uma grande empatia e curiosidade por parte delas.
Em função de muito vento, a Tenda teve que ser fixada com cordas ao chão, daí a opção de deixá-la montada mesmo nos dias em que ficaria fechado. Optou-se por “embalá-la” com um plástico amarelo e deixar fixadas algumas informações sobre sonhos.
Optou-se por regular a entrada de pessoas (1 a 2 por vez), para que pudesse haver maior interação e que os sonhos pudessem ser transcritos com calma, alguns filmados e muitas conversas, angústias, alegrias e desabafos compartilhados; confundida por cartomante e cigana, o que resultou em divertidos diálogos.
Todo o estrutura – madeirite, caibros e pallets, foram doados a Sra. Tonha – catadora de papelão. Ela foi escolhida por indicação de pessoas que trabalham no Mercado, e que sabiam que seria de grande utilidade para ela no barraco onde vive.
Percebeu-se que pela localização, o Mercado é um centro onde convergem pessoas de toda a cidade – foi possível comprar sonhos que abrangesse um universo norte-sul-leste-oeste da cidade, conseguindo assim o recorte da “alma onírica”, desejo da apresentação do projeto.
No total foram 150 sonhos comprados, e que serão parte da continuidade do processo do Projeto, onde serão agrupados e transportando para livros-objetos e outros suportes.
Agradeço imensamente a oportunidade de poder compartilhar Sonhos Mutantes com a cidade do Recife. Todos os dias em que vivi o Mercado, a Praça, vivências e conversas com as pessoas, me fez sentir mais rica de conhecimentos. Experiência para estar no coração, com muito afeto.
LIVRO DOS SONHOS:
TENDA IV
(2010)
Intervenção e instalação – 2010
Março a Maio/2010 – Exposição: “Refrações” – Coletiva na Pinacoteca UFAL , Maceió – Al.
Compra de sonhos na Praça Sinimbú e apresentação do registro em vídeo e histórico do Projeto Sonhos Mutantes.
TENDA:
Serie de 24 telas. Dimensão: variadas, 23 telas dispostas em forma de “tapetes que descem sobrepostos”, 01 para o teto e 01 para o piso.
Técnica/Material: acrílica sobre tela.
Estrutura externa: plástico e fios, Dimensão: 700×1000/800×250 cm.
Ação performática: compra de 150 sonhos.
Registro: vídeo 15′
LINHA DO TEMPO:
- Livro dos Sonhos-144 sonhos
- Livro Projeto
- Livro Dicionário Próprio de Símbolos
- Obra: Travesseiros
- Obra: Tela
- Livro dos sonhos comprados no Galpão 72, Maceió, 2007
- Obra: Livro-objeto de sonho comprado em Maceió 2007
- Livro dos sonhos comprados no Palácio dos Bandeirantes, São Paulo, 2008
- Livros dos sonhos comprados na Praça do Mercado São José, Recife, 2008
- Obra: Fronha
- Livros dos Sonhos comprados na Praça Sinimbú, Maceió, 2010
- Vídeo registro da compra de sonhos na Praça Sinimbú.
A proposta de colocar a Tenda na Praça Sinimbú partiu dos curadores de arte Clarissa Diniz (PE) e Bitú Cassundé (CE), da Exposição Refrações, que marca os 10 anos de reabertura da Pinacoteca da Universidade Federal de Alagoas, apresentando os artistas residentes na cidade, com produção contemporânea.
A Praça Sinimbu, situada no início do centro antigo de Maceió, é rodeada pelo Centro Cultural da Universidade Federal – espaço que abriga a Pinacoteca, curso de Teatro, dança música e línguas, também pelo Tribunal Regional do Trabalho, pelo Museu Regional de Artesanato Théo Brandão, Pela Casa Jorge de Lima e pelo INCRA – este último, mote para que a praça seja permanentemente espaço de abrigo de tendas do Movimento Sem-Terra.
Daí, o interesse em montar a Tenda, apropriando-se do formato utilizado pelo Movimento – lona plástica preta – podendo assim ter a oportunidade de saber como e o quê sonham.
Este processo foi gravado em vídeo, editado e apresentado na Exposição “Refrações” juntamente com a linha do tempo do projeto.
RELATÓRIO
A instalação do Projeto Sonhos Mutantes – TENDA – em formato da Tenda similar as do Movimento Sem-Terra, na Praça Sinimbú resultou em um registro muito importante para todo o processo que até então vem sendo desenvolvido pelo projeto.
A Praça Sinimbú, desde muitos anos vem sendo abrigo do Movimento Sem-Terra e também espaço de manifestações políticas e também religiosas, já que impreterivelmente, todos os dias, entre 12:00 e 14:00 discursos religiosos ao microfone são feitos a revelia. Desde então, em determinados momentos, aconteceram algumas ações de caráter violento, como invasões a espaços públicos e saques a supermercados do entorno.
A praça tornou-se então para a população da cidade, um território preconceituoso e também aquele espaço que preferem “não enxergar”.
A Tenda foi instalada entre 03 árvores, presa com cabos de aço; as telas em forma de “Tapetes sobrepostos” e no exterior revestido com lona plástica preta, similar as tendas vizinhas dos Sem Terra. Em função da proposta houve um maior despojamento na colocação destas telas, assim como o tapete e as telas do teto, que se optou apenas por uma, também por apresentar o tempo com temperatura muito elevada e esteticamente a copa das árvores propiciava conforto.
As pessoas que passavam pela praça era abordadas por 03 atrizes que convidavam a entrar na Tenda para “vender” um sonho em troca de um cartão de crédito fictício. Muitas relataram que a primeira vista confundiu com as tendas dos Sem-Terra e que somente ao adentrar viam que se tratava de uma instalação artística.
Também , como se intencionava, foram abordados os integrantes do movimento que corresponderam simpaticamente ao convite. Registro importante ao constatar que a maioria relatou sonhos oníricos.
Porém, surpresa ao saber que o número imenso de barracas está como ocupação de espaço. Vivem 03 famílias e o restante poucos homens tomando conta de todas as barracas.
Finalizando a compra dos sonhos as 18:00, com um saldo de 100 sonhos comprados, sendo 20 destes também gravados em vídeo.
Agradeço a oportunidade de poder vivenciar este processo.
Sonhos, desejos e realidades estão dentro de limites muito tênues, que se interligam quando permitimos.
Ainda bem.
TENDA V
(2014)
Labirintos. 144
TENDA- Instalação – Objetos
Outubro/2014 – Governador Valadares/ MG
A “tenda” se transforma em “tapete”.
uma série de óleos essenciais – vetiver, gerânio, alecrim, anis e laranja, que atuam como sensibilizadores.
Decalcam a mão esquerda e registram um sonho onírico ou desejo.
Realiza-se uma troca de sonhos, cada pessoa escolhe um elemento que desperta atenção no sonho do outro, gerando uma repetição deste elemento que forma um padrão gráfico.
Retornam ao próprio sonho desenhado e também escolhem um elemento, repetindo. Registram em um tecido.
Torna-se um labirinto, na intenção de proporcionar um novo encapsulamento, desta vez, cifrados a partir de um conjunto de memórias de sonhos e desejos da cidade natal da artista.
Ddaniela Aguilar A Colecionadora de Sonhos 