Conceito
O Projeto Sonhos Mutantes e sua trajetória. Desde a criação do livro dos sonhos – registro de 144 sonhos sequenciais/2007, base para criação das séries: travesseiros/objetos, tenda/telas e livros/objetos realizaram-se ações expositivas em diferentes espaços e cidades, experiências vividas na rua e no museu, com participação de diferentes públicos.
Entre 2007 a 2010 foram utilizados como referência os 144 sonhos de Ddaniela Aguilar para induzir a compra simbólica de sonhos do outro e a partir de 2011 o conceito se desdobrou para ações de compartilhamento de sonhos coletivos.
O nome Sonhos Mutantes tem como referência O I CHING, o Livro das Mutações, “… os números que conduzem ao hexagrama básico…, receptivo – que representa o feminino, terra, soma 144”. ¹
São 144 sonhos sequenciais anotados em um “Livro do Sonho”, que depois de agrupados foi base para elaboração da SÉRIE I – Travesseiros e SERIE II – TENDA.
Os Travesseiros – 144, objetos de amplificação que mimetizam estes sonhos. A Tenda é casa, caixote ou simplesmente tenda. Monta, desmonta, reforma, cai , refaz, desmonta e flexibiliza. E em seu interior abriga um número de pinturas em telas realizadas a partir destes sonhos que foram agrupados, e formam as paredes desta “Tenda”, como cortinas-tapetes.
Estas telas possuem dimensões variadas. Dinamizam o transbordamento e multiplicação dos desejos. Algumas vezes a estrutura externa rígida, de madeirite e caibros foram utilizados intencionalmente para contrapor ao interior como armadura, para conter em um espaço o volume destes desejos.
Espaço destinado para compartilhar sonhos de outros, base da continuidade do projeto sempre. Convidar as pessoas a partilhar sonhos é, portanto, delimitar esta tenda como território de memória onírica da artista e os sonhos dos indivíduos uma mostra da alma onírica da cidade onde transitoriamente a abrigará.
¹WILHELM, Richard, I CHING, O Livro da mutação. Tradução, 1982.
GÊNESE
O Livro dos Sonhos – 144 são sonhos sonhados, pesadelos, desejos revelados ou contidos, sonhos acordados, sonhos de consumo ou simplesmente imateriais. Para a construção de transportá-los emblematicamente aos travesseiros e telas, a inspiração foi a partir do método Trilha dos Sonhos do analista junguiano Robert Bosnak – “Desvendando os mistérios dos sonhos – ed. Nova Era 2002” e Anatomia dos Sonhos, Mark Thurston – “Sonhos, respostas desta noite para as dúvidas de amanhã – ed. Pensamento, 1998.
Segundo Bosnak, em 1935, C.Jung foi o primeiro pesquisador de sonhos a trabalhar num relatório cronológico de um grupo de sonhos “como uma série”, a fim de entender os processos inconscientes (… uma série de sonhos consiste de um conjunto cronologicamente ordenado de sonhos já gastos) e que diz respeito ao processo de execução, não ao resultado final.
E Thurston sinaliza que “algumas vezes – a interpretação dos sonhos significa apenas examinar a experiência que o sonho nos proporcionou; não se trata tanto de avaliar os significados por trás dos símbolos, como de tomar a mensagem do sonho tal como ela se apresenta. Para outros sonhos ainda, a interpretação significa celebrar a experiência, talvez fazendo um desenho que a represente ou compondo um poema que recrie os sentimentos”.
…”no mundo dos sonhos o excesso de existência abre espaço para si mesmo. Existe vida em demasia brotando das profundidades para que seja satisfeita com uma única realidade; o Livro das Mutações é escrito em nossos sonhos. O ensinamento de uma ordem maior valoriza a impermanência”.




DICIONÁRIO DE SÍMBOLOS PARA A TRILHA DOS SONHOS ONÍRICOS



























PROCESSO
- 144 OBJETOS: Travesseiros-almofadas. São objetos, elementos representacionais, alinhados aos 144 sonhos a fim de multiplicá-los no sentido amplo da palavra, para ligar ao coletivo.
Como suporte, o acetato rígido dos clichês (descartes de uma fábrica de embalagem de papelão), contendo gravados, referências industriais de marcas, endereços e instruções, em junção com gravuras e desenhos; em seu interior – jornais, impressões, repletos de notícias, de apelos e propaganda e informações dissolvidas.



A TENDA: Grupo de pinturas (corantes reativos e acrílica s/tela) a partir dos sonhos agrupados, os desejos mais desejados, desdobrados em “cortinas-tapetes”, transmutados na superfície colorida e multiplicidade de arabescos.
“É estar dentro da cor para transbordar os desejos.”
Rigidez e Flexibilidade. Tenda, casa,caixote, monta, desmonta, reforma, cai , refaz, monta, desmonta…
TROCA-ESCAMBO: E unindo aos 144 sonhos existentes, a recolher sonhos de outras pessoas,que se revelam, sugestionados pela curiosidade que implique o desejo.
As ações se realizavam através de um fictício “Cartão de Crédito”, que simbolicamente proporciona 03 estados de realidade e era a “moeda de troca” e também o mote para a criação das 03 séries de obras posteriormente elaboradas a partir destes sonhos comprados.



Fronhas, Livros/Objeto e Cápsulas de Memórias
SÉRIE III – FRONHAS – 1ª. Realidade

Alguns sonhos comprados foram impressos ao revés (referências aos clichês) em uma folha de papel e prensado em uma fronha de tecido, com dimensão – 40 x 60 cm cada, tecido 100% algodão – em tonalidades dos beges aos marrons e dos lilases e cinzas ao azul marinho.
Estas fronhas-objeto adicionadas como substituição ao “madeirite” da Tenda, desconstruindo assim a “armadura que acondicionava o volume e espaço dos desejos”, transformando em espaço fluido, em que o interior se une ao exterior, o eu ao coletivo.

SÉRIE IV – LIVROS – 2ª. Realidade
Os sonhos e desejos agrupados são transportados emblematicamente para os Objetos-Livros.
Reapropriando os clichês, realiza-se a construção destes objetos-Livros, em formato 30×30 e 20×40 cm.
Capa: acetato e clichês – desenhos a partir da 1ª realidade.
Corpo: Páginas em lonita, nylon (descarte de silkscreen), jornal-impressos, desenhos, colagens, clichês e gravados inspirados nestes emblemas.



SÉRIE V – 3ª Realidade
A 3ª realidade: encontrar dentro deste coletivo, universos sonhados paralelos ao da artista.
Dissolver emblemas próprios a incorporar novos desdobramentos e novos conceitos.
Cápsulas de memórias.
